segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Filosofia de gato

"Diziam os teólogos de séculos atrás que a harmonia da natureza é o espelho onde os seres humanos devem buscar suas perfeições. O gato é um ser da natureza, então  olho para meu gato como que para um espelho. Não percebo nenhuma desarmonia. Sinto que devo imitá-lo.
Camus observou que o que caracteriza os seres humanos é a sua recusa a ser o que são. Eles não estão felizes com o que são. Querem ser outros, diferentes. Por isso somos neuróticos, revolucionários e artistas. Eu, neste momento quero ter simplesmente a saúde de corpo e de alma que tem o meu gato. Ele está feliz com sua condição de gato. Deitado ao lado do aquecedor, ele se entrega, sem pensar, às delícias do calor macio. Neste momento ele é um monge budista: nenhum desejo o perturba. Desejos são pertubações na tranquilidade da alma. Ter um desejo é estar infeliz: falta-me alguma coisa, por isso desejo... Mas para meu gato nada falta. Ele é um ser completo. Por isso ele pode se entregar ao calor do momento presente sem desejar nada. Isto tem o nome de preguiça!
Preguiça é a virtude dos seres que estão em paz com a vida."

Extraido do livro: Do universo à jabuticaba ( Rubem Alves )

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