sexta-feira, 29 de abril de 2011

Eros e Psiquê

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Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à princesa vem.

A princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde uma grinalda de era.

Longe o infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o destino
ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A princesa que dormia.


(Fernando Pessoa)

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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos...

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Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, fostes minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, fostes minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

... Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus."


(Pablo Neruda)

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terça-feira, 26 de abril de 2011

Para ser grande, sê inteiro...

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Para ser grande, sê inteiro:


Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.


Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago



A Lua toda brilha,


Porque alta vive.


(Fernando Pessoa)

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Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
e dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.



(Pablo Neruda)

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domingo, 24 de abril de 2011

Ninguém pode construir em teu lugar...

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"Ninguém pode construir em teu lugar
as pontes que precisarás passar,
para atravessar o rio da vida.
Ninguém exceto tu, só tu."



(Nietzsche)

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Recomeçar...

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Não importa onde você parou...
em que momento da vida você cansou...
o que importa é que sempre é possível e necessário "recomeçar".

Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
é renovar as esperanças na vida e o mais importante...
acreditar em você de novo...

Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado.
Chorou muito? Foi limpeza da alma.
Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia.
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso seu para "chegar" perto de você.
Recomeçar...

Hoje é um bom dia para começar novos desafios.
Onde você quer chegar?
Ir alto... sonhe alto...
queira o melhor do melhor...

Pensando assim trazemos para nós aquilo que desejamos...
Se pensarmos pequeno, coisas pequenas teremos...
Já, se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor, o
melhor vai se instalar em nossa vida.

Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.



(Carlos Drummond de Andrade)

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sexta-feira, 22 de abril de 2011

As cores de abril





As cores de abril (Vinicius de Moraes e Toquinho)

Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho


As cores de abril
Os ares de anil
O mundo se abriu em flor

E pássaros mil
Nas flôres de abril
Voando e fazendo amor

O canto gentil
De quem bem te viu
Num pranto desolador

Não chora, me ouviu
Que as cores de abril
Não querem saber de dor

Olha quanta beleza
Tudo é pura visão
E a natureza transforma a vida em canção

Sou eu, o poeta, quem diz
Vai e canta, meu irmão
Ser feliz é viver morto de paixão

Ouça
aqui!

Feliz Páscoa!!!




"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou;"
(Jesus Cristo)

- Somos todos filhos de Deus, somos todos irmãos.

Canção para um grande amor...

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Canção Para Um Grande Amor (Isabella Taviani)
Composição: Isabella Taviani

Mas agora vai
Deixa o vento te seduzir
Deixa o novo sonho te invadir
E não volte nunca mais aqui pra me esperar

Agora vai
Lança teu destino em outro mar
Não recues nunca pra ancorar
Nunca pra duvidar

Deixa o sol queimar a tua pele
Deixa o céu forrar a tua cama
Deixa amanhecer tua chama, teus desejos

Mas agora vai
Porque há vida em outra dimensão
Porque há paz no outro coração
Por que com a gente não!
Por que com a gente não?

Agora vai
Buscar os novos horizontes
Pousar no colo de outros ombros
Saciar a sede do teu corpo louco

Deixa o sol queimar a tua pele
Deixa o céu forrar a tua cama
Deixa amanhecer tua chama, teus desejos

Deixa o sol queimar a tua pele
Deixa o céu forrar a tua cama
Deixa amanhecer tua chama, teus desejos

Vai pra sempre vai
ser feliz é uma estrada sem fim
Tens a força que eu nunca atingi
Tens a dor mas ainda sei que tens a mim

Deixa o sol queimar a tua pele
Deixa o céu forrar a tua cama
Deixa amanhecer tua chama, teus desejos

Deixa o sol queimar a tua pele
Deixa o céu forrar a tua cama
Deixa amanhecer tua chama, teus desejos

Deixa o sol queimar a tua pele
O céu forrar a tua cama
Tua chama, teus desejos

Deixa o sol queimar a tua pele ...




Ouça aqui!
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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Metamorfose



"... Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito, e eu estava com pressa.

Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com meu hálito. Eu o esquentava, impaciente e o milagre começou a acontecer diante de mim, a um ritmo mais rápido que o natural.

O invólucro se abriu, a borboleta saiu se arrastando e nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas e, com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava para desdobrá-las.

Curvado por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito, em vão. Era necessária uma paciente maturação, o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol; agora era tarde demais.

Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada antes do tempo. Ela se agitou desesperada e alguns segundos depois, morreu na palma da minha mão.

Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que eu tenho na consciência.

Pois, hoje, entendo bem isto: é um pecado mortal forçar as grandes leis. Temos que não nos apressar, não ficarmos impacientes, seguir com confiança o ritmo eterno."



(Nikos Kazantzaki)

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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Viva!!!



"Que coisa é o livro? Que contém na sua frágil arquitetura transparente? São palavras apenas, ou é a nua exposição de uma alma confidente?"


(Carlos Drummond de Andrade)



Dia 18 de abril:


- Dia Nacional do livro


- Dia do amigo


- Dia de Monteiro Lobato


Viva o livro! Viva a leitura, Viva a amizade, Viva a Regina, Viva Lobato e Drumond!!! Viva!!!

" E eu amarei o barulho do vento no trigo..."




"... Mas a raposa voltou a sua idéia.

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas a galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... Cativa-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho. Mas eu não tenho tempo! Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares a mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz: Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. As quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração..."




( Antoine de Saint-Exupéry / Livro: "O Pequeno Príncipe" páginas: 70 e 71)


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sábado, 16 de abril de 2011

... Aprendi com os passarinhos.



" ... Aprendi com os passarinhos.

Ah! Bentinho, tu não sabe o que é a gente estar sozinho na caatinga, ficar debaixo de um pé de imbuzeiro, na fresca, e ouvir um bicho deste abrir o bico no mundo. Só mesmo coisa de Deus. Aquilo vai dentro. Tu nunca ouviste uma juriti pela boca da noite cantando. Dá nó na garganta. Eu posso dizer que aprendi com os passarinhos. Quando o bichinho pára e a gente vem andando de caminho afora, a coisa fica no ouvido, fica guardada dentro da gente. Depois o cantador pega da viola, manda os dedos nas cordas e canta, Bentinho, muita vez eu estava no corte do facheiro para o gado. A sêca está solta no mundo. O sertão pegando fogo. E eu de foice na mão pra o serviço. O céu é uma cor só, azul, azul, que não acaba mais. Eu paro. Fico de um lado olhando as coisas. Tudo parado, os gravetos, tudo sêco. Pois, menino, aí me vem uma vontade de pegar a viola e tocar. Você chega a escutar os gravetos se partindo, estalando, como um bordão espichado. Vem uma vontade danada de cantar. Tudo aquilo pega a gente de jeito."


(José Lins do Rêgo - Livro: Pedra Bonita - Página 136 ou 160)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

À Lua Nova





Caititi, Caititi
Iamara notiá
Notiara iamara
Epeju... (fulano)
Emu manuara
Ce recé (fulana)
Cuçukui xá ikó
Ixé anhú e pia porá


Lua Nova, ó Lua Nova!
Assoprai em fulano lembrança de mim;
eis-me aqui em vossa presença;
fazei com que eu tão somente ocupe o seu coração.



(Anônimo)



"O elemento indígena deixou uma valiosa contribuição folclórica, havendo também colaboração do elemento europeu.

As lendas, provérbios, contos, e tudo o que resume o folclore foram transmitidas na linguagem mais simples possível, desprovida de qualquer correção. Todavia, não deixa de ser interessante pela espontaneidade e riqueza de imaginação que
representa."
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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Retrato Campestre

Pintura reprodução de Van Gogh - Vista da planície de Crau - A colheita



Havia na planície um passarinho,
um pé de milho e uma mulher sentada.
E era só. Nenhum deles tinha nada
com o homem deitado no caminho.

O vento veio e pôs em desalinho
a cabeleira da mulher sentada
e despertou o homem lá na estrada
e fez canto nascer no passarinho.

O homem levantou-se e veio, olhando
a cabeleira da mulher voando
na calma da planície desolada.

Mas logo regressou ao seu caminho
deixando atrás um quieto passarinho,
um pé de milho e uma mulher sentada.

(Carlos pena Filho)

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Instantes...

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Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida; claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora. Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem termômetro, uma bolsa de água quente,um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho oitenta e cinco anos e sei que estou morrendo.

(Jorge Luis Borges)

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Bons amigos


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Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.

Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.


Amigo a gente sente! Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.


Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende. Amigo a gente entende!


Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.


Porque amigo sofre e chora. Amigo não tem hora pra consolar!


Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade. . Porque amigo é a direção. Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros. Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.


Ter amigos é a melhor cumplicidade!


Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos,

Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!


( Machado de Assis)

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sábado, 2 de abril de 2011

Despedida

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Ao perder-te, tu e eu perdemos: eu porque tu eras o que eu mais amava, e tu, porque eu era o que te amava mais.

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Mas de nós dois tu perdes mais que eu porque posso amar a outra como amava a ti, mas a ti nunca amarão como eu te amava.

(Ernesto Cardenal)

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