sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Versos



Versos! Versos! Sei lá o que são versos...

Pedaços de sorriso, branca espuma,

Gargalhadas de luz, cantos dispersos,

Ou pétalas que caem uma a uma...


Versos!... Sei lá! Um verso é teu olhar,

Um verso é teu sorriso e os de Dante

Eram o seu amor a soluçar

Aos pés da sua estremecida amante!


Meus versos!... Sei eu lá também que são...

Sei lá! Sei lá!... Meu pobre coração

Partido em mil pedaços são talvez...

Versos! Versos! Sei lá o que são versos...


Meus soluços de dor que andam dispersos

Por este grande amor em que não crês!...


(Florbela Espanca)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os meus versos




Leste os meus versos? Leste? E adivinhaste

O encanto supremo que os ditou?

Acaso, quando os leste, imaginaste

Que era o teu esse olhar que os inspirou?


Adivinhaste? Eu não posso acreditar

Que adivinhasses, vês? E até, sorrindo,

Tu disseste para ti: "Por um olhar

Somente, embora fosse assim tão lindo,

Ficar amando um homem!... Que loucura!"


- Pois foi o teu olhar; a noite escura,

- (Eu só a ti digo, e muito a medo...)


Que inspirou esses versos! Teu olhar

Que eu trago dentro d'alma a soluçar!

Ai não descubras nunca o meu segredo!


(Florbela Espanca)

Fumo




Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há nem rosas;


Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!


Meus olhos são dois velhos pobrezinhos

Perdidos pelas noites invernososas...

Abertos, sonham mãos cariciosas,

Tuas mãos doces plenas de carinhos!


Os dias são Outonos: choram... choram...

Há crisântemos roxos que descoram...

Há murmúrios dolentes de segredos...


Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é! ó meu amor pelos espaços!
Fumo leve que foge entre os meus dedos...

(Florbela Espanca)