sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Eu e você...



Eu e você (Roupa Nova e José Augusto)

Amar você é bom demais
Que mais posso querer
Se tudo você tem melhor
Pior é te perder
Me perdi na luz do teu olhar
Me encontrei quando encontrei você
Depois do amor
Quando adormecer
Me leva nos teus sonhos
Quando acordar
Quero estar com você
E todo nosso amor recomeçar
E tudo é emoção, prazer

É cor, eu e você...


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Despedida




E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir;  foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval – uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito – depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado – sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras – com flores e cantos. O inverno – te lembras – nos maltratou; não havia flores, não havia mar e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver;  entretanto, é possível  que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas duradouras e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

(Rubem Braga)


(Extraído do livro “A traição das Elegantes”, Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83)

domingo, 4 de agosto de 2013

Um minuto




Desculpe te acordar tão cedo
Mas não dava pra esperar, precisava te ouvir
Saber que está bem, que tudo está bem.

Acordei com você em meu pensamento
E uma música que tocava no rádio 
Me fez perceber que está além do pensamento,
Vive em minha alma, me dando força.

Vivemos tantos dias que não passam de meras mentiras
Dias em que nada é o que realmente esperamos...

Mas me diga você, quantos dias esperou
Para que tudo isso seja deixado para trás

Esperei por mil vidas e mais alguns segundos
Somente para me sentir vivo
E eu percebi agora que o que me faz viver
Não é o ouro, nem as meras ilusões de uma vida
E, sim, o seu sorriso... 

Não poderia deixar
Mais um dia passar sem que você soubesse...

(Ivan Rodrigues)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O desaparecido





Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.

Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.

Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.



Rubem Braga

(Do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1969, pág. 112)