domingo, 12 de dezembro de 2010

Canção óbvia

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Canção óbvia

Escolhi a sombra desta árvore para
Repousar do muito que farei,
Enquanto espero por ti.
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Quem espera na pura espera
Vive um tempo de espera vã.
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Por isto, enquanto te espero
Trabalharei os campos e
Conversarei com os homens.
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Suarei meu corpo, que o sol queimará;
Minhas mãos ficarão calejadas;
Meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
Meus ouvidos ouvirão mais;
Meus olhos verão o que antes não viam
Enquanto esperarei por ti.
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Não te esperarei na pura espera
Porque meu tempo de espera é um
Tempo de que fazer.
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Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,
Em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir
É perigoso falar
É perigoso andar
É perigoso esperar, na forma em que esperas,
Porque esses recusam a alegria de tua chegada.
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Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me,
Com palavras fáceis, que já chegaste,
Porque esses, ao anunciar-te ingenuamente,
Antes te denunciam.
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Estarei preparando a tua chegada
Como o jardineiro prepara o jardim
Para a rosa que se abrirá na primavera.
(Paulo Freire)
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Um comentário:

Angel disse...

Entendi...